"Eu, como os cães, sinto a necessidade do infinito...Não posso, não
posso satisfazer essa necessidade! Sou filho do homem e da mulher, ao
que me dizem. Isso me espanta...acreditava ser mais! De resto, que me
importa de onde venho? Se dependesse da minha vontade, teria preferido
ser antes o filho da fêmea do tubarão, cuja fome é amiga das
tempestades, e do tigre, cuja crueldade é reconhecida: eu não seria tão
mau”.
-------
" Queira o céu que o leitor, tornado audaz e momentaneamente feroz à
semelhança do que lê, encontre, sem se desorientar, o seu caminho
abrupto e selvagem através dos lodaçais desolados destas páginas
sombrias e cheias de veneno; pois que, a não ser que utilize na sua
leitura uma lógica rigorosa e uma tensão de espírito pelo menos igual à
sua desconfiança, as emanações mortais deste livro irão embeber-lhe a
alma, como a água ao açúcar. Não convém que toda a gente leia as páginas
que se seguem; só alguns hão-de saborear sem perigo este fruto amargo.
Por consequência, ó alma tímida, antes de penetrares mais longe em tais
domínios inexplorados, dirige os teus passos para trás e não para a
frente. Ouve bem o que te digo: dirige os teus passos para trás e não
para a frente, como os olhos de um filho que se afasta respeitosamente
da contemplação augusta do rosto materno; ou, antes, como a visão ao
longe de friorentos grous em grande meditação, que, em tempo de Inverno,
voam poderosamente através do silêncio, com todas as velas tensas, para
um ponto determinado do horizonte, donde parte repentinamente um vento
estranho e forte, precursor da tempestade(...)"
- Lautréamont, Os Cantos de Maldoror, tradução de Claudio Willer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário